segunda-feira 06 dezembro 2021 10:56
Por Gabriela Macedo
Com baixa perspectiva de novos medicamentos contra superbactérias, OMS diz que só existem 43 antibióticos em ensaios clínicos no mundo atualmente.
Superbactérias triplicam durante pandemia da Covid-19 | Foto: Reprodução |
Dados do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) mostram que a detecção de superbactérias, que são resistentes a antibióticos, triplicou no Brasil durante a pandemia da Covid-19.
Além do próprio aumento no número de amostras detectadas, é possível perceber aumento na resistência desses microorganismos aos medicamentos disponíveis.
De acordo com o estudo, esse processo de aumento das bactérias e de sua maior resistência tem sido acelerado devido ao alto – e diversas vezes incorreto – consumo de remédios durante a pandemia do coronavírus.
Isso é, inclusive, uma ameaça global, já que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 700 mil pessoas morrem anualmente por infecções por superbactérias, não apenas um problema restrito ao Brasil.
A capacidade de tratar infecções se trata de um dos maiores avanços da medicina moderna. No entanto, a OMS ainda estima que o número de mortes no mundo por superbactérias deve subir para dez milhões até 2050, ultrapassando as mortes por câncer.
Esse aumento de amostras foi constatado gradativamente pela FioCruz, uma vez que em 2019 o laboratório recebeu mil amostras de superbactérias, advindas de diversos estados, para análises aprofundadas.
Em 2020, esse número de amostras confirmadas subiu para 2 mil e em 2021 para 3,7 mil – número quase quatro vezes maior que no período pré-pandêmico.
No geral, essas superbactérias são relacionadas à alta taxa de mortalidade.
“Durante a emergência sanitária provocada pela Covi-19, houve um aumento significativo no número de pacientes internados em estado grave e por longos períodos, que apresentam maior risco de infecção hospitalar”, afirmou a chefe do laboratório, Ana Paula Assef, ao Estadão.
Isso, porque bactérias se multiplicam a cada 20 minutos, além de sofrerem mutações aleatórias em alguns casos.
Ao se multiplicarem, as bactérias agem como forma de um estudo contra os antibióticos, uma vez que o antibiótico faz com que as bactérias que sofreram mutação não morram, e sim se multipliquem.
Para piorar, há uma baixa perspectiva de criação de novos medicamentos contra bactérias.
De acordo com a OMS, existem apenas 43 antibióticos em ensaios clínicos no mundo atualmente.
“Em parte, a alta prescrição de antibióticos nos hospitais durante a pandemia pode ser justificada pelo maior número de pacientes graves internados, que acabam desenvolvendo infecções secundárias e precisam desses medicamentos, porém o uso excessivo precisa ser controlado para evitar que se impulsione a resistência bacteriana”, diz Ana Paula.
Análises da FioCruz
Um medicamento analisado pelo laboratório e que foi detectado aumento a resistência de sua atuação foi a polimixina.
De 2019 para 2021, a proporção de bactérias A. bumanii (que provoca infecções hospitalares) resistentes à polimixina subiram de 2,5% para 5,6%. Já as O. aeruginosa subiram de 14% para 51%. As enterobactérias também foram de 42% para 58%.
“A polimixina é um medicamento antigo, que não era mais usado por causa dos efeitos colaterais, mas voltou a ser empregado nos últimos anos por causa da resistência aos fármacos mais modernos.
Como se trata de uma das últimas opções terapêuticas, mesmo um aumento discreto nesse tipo de resistência é preocupante”, explica Ana Paula.
Fonte: JORNAL OPÇÃO.
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