Enquanto acompanhava uma dupla de turistas portuguesas pela Chapada dos Veadeiros, em Goiás, o guia Tiaraju Dias de Oliveira, de 37 anos, flagrou um momento curioso em um dia no final de abril.
“Estávamos voltando da Cachoeira do Segredo, em Alto Paraíso de Goiás, quando me deparei com duas seriemas e logo diminuí ainda mais a velocidade do carro. Já andamos devagar em respeito à fauna local para evitar acidentes e não assustar os animais”, relembra.
Ele conta ainda que percebeu algo diferente: uma das aves dava pequenos saltos, indo e voltando de um determinado ponto. “Na hora pensei, ela deve estar predando alguma coisa! Avisei as turistas e já comecei a filmar”.
O guia estava certo. No vídeo, é possível observar a seriema predando uma cobra. A ave se aproxima do réptil e após algumas tentativas consegue segurar a serpente pelo bico e chega a bater ela no chão até vencer a luta.
De acordo com o biólogo Willianilson Pessoa, a seriema realiza esse movimento de jogar a presa no chão justamente para matar o bicho com o impacto, já que dessa forma ela corre menos riscos, porque se segurasse com os pés para bicar, poderia levar botes.
“No vídeo também dá para ver que a seriema fica indo e voltando, qualquer movimento da cobra ela dá um pulo pra trás, por isso que parece que ela está com medo da serpente, mas é apenas para evitar ser mordida. Quando consegue, a ave dá o bote certeiro na cabeça da presa, pega pela cabeça e sacode o bicho no chão, igual um chicote, até matar. Isso faz com que elas sejam muito minuciosas e eficientes no método”, diz Pessoa.
Ainda segundo o pesquisador, é impossível dizer ao certo qual é a espécie de cobra que foi predada pela ave, mas sabe-se que as seriemas se alimentam tanto das serpentes inofensivas como das mais venenosas.
O biólogo esclarece que se uma cobra venenosa atingir o pescoço da ave ou até mesmo o corpo, ela pode morrer com o veneno. Entretanto, o método de caça da seriema, assim como as pernas compridas, sem penas e com “escamas”, a protegem e ajudam a evitar esses “acidentes”.
Além de se alimentar de serpentes, a seriema também preda insetos, roedores, anfíbios e outras espécies de aves.
Tiaraju relembra que passou cerca de dois minutos vendo a cena da seriema com a serpente, algo que nunca tinha visto mesmo trabalhando com turismo há 10 anos na Chapada dos Veadeiros.
“O Cerrado vem sendo destruído e poder ver de perto um animal selvagem agindo com seus próprios instintos livre na natureza é sempre muito impressionante e especial”, finaliza o guia.